Vamos, já são 12:00

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O que você realmente conhece de mim?

O que sabe sobre minhas dores e pesares?

O que você sabe sobre meus fantasmas

Como ser imparcial,

Se você ajudou a cria-los?

Como pode me olhar e sentir pena

Se o que você vê quebrado em mim

Está profundamente oculto em si próprio?

 

Como pode me julgar, se há tanto a descobrir

Como pode querer me salvar, se você não tem as repostas

O que te impulsiona

Não preenche minha ânsia

A luz não foi suficientemente obscurecida

Pra que se esforçar em recolher os raios do sol que passaram através da peneira?

Vamos, já são 12:00

Você acha que tem razão

Mas o questionamento não te permeia

Vamos, há muito a descobrir

 

Conversas e confabulações

O medo do olho no olho

O rancor implícito, a ferida oculta

Na despedida, mecanicamente um sorriso

Sedimenta mais uma camada

Do não dito e mal-entendido

 

Vamos, não queira me adequar

Só tente me amar

 

 

Me perdoa?

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Seja egoísta,

Faça um bem enorme a si mesmo:

Perdoe.

Perdoe alguém, ou se perdoe.

Estamos errando o tempo todo, aprendendo com nossos erros

Se perdoe, erre, aprenda, perdoe novamente.

 

Você não tem que esquecer, isso pode ser impossível

Não é necessário, não é pré-requisito

Mas se libere da dor, aquela dor lancinante

Pesada, aguda,

Que corrói, que queima

Mesmo que a deixemos isolada

camadas e camadas e camadas

De esquecimento fingido

 

Dor teimosa

Nada lhe parece suficiente,

Quer estar sempre sob os holofotes

Contra ela só tem um remédio,

Bem forte, potente:

Perdão.

 

E a posologia é simples:

 

Uma só dose,

Bem aplicada.

Essa visão romântica do mundo

Millôr Fernandes é considerado o melhor “frasista” do Brasil.  Esses dias vi essa frase dele:millor_fernandes_como_sao_admiraveis_normal_l

Assisti um filme que acabava de repente, sem final feliz. Na hora achei péssimo.  Estamos habituados à visão romântica do filme ou livro, onde as coisas têm começo, meio e fim, porque aqui fora não podemos controlar isso. Na vida real, cotidiana, o dia começa e termina sem que as histórias tenham se resolvido, a vida segue em contínuo movimento, altos e baixos, demoramos a aceitar os fins, e sofremos muito nos meios.

Quando um filme não termina de verdade, causa estranhamento, é quase como se o acordo fosse rompido.

Assistir um filme é uma fuga da realidade, acreditamos que o que está se passando ali é real. Sabemos que não é, mas faz parte da magia acreditar que é. Essa fuga é prazerosa, pagamos por ela.

Fazendo um paralelo, todos nós temos nossas máscaras sociais, só permitindo que o outro veja aquilo que queremos, ainda que não façamos isso de forma intencional. Isso não significa que a pessoa é  boa ou ruim, é apenas ela mesma. O problema somos nós que queríamos e fantasiamos que ela fosse de outro jeito, nos esforçamos para enxergar o que queremos ver.

Faz parte da ficção da vida, apresentar sempre nosso melhor lado, o lado certinho, o lado que vai fazer o outro gostar de mim. Geralmente como diz a frase do Millôr,  fantasiamos a respeito das pessoas que não conhecemos bem, damos a ela as melhores qualidades, quase sempre fazendo uma comparação consigo mesmo. Ela é tão divertida, tão criativa, tão bonita...  Aí quando a conhecemos um pouco, logo vem a constatação de que ela não é tão assim, isso dá um certo alivio, ela é só uma pessoa real, como eu e você, cheia de defeitos e qualidades que nos fazem nós mesmos. Se os defeitos que enxergamos são toleráveis tornamos a pessoa nossa amiga, se não enxergamos nenhum defeito ficamos por perto. Tem que ter algum! É reconfortante perceber o fio de cabelo fora do lugar no outro. É como um espelho que faz seu próprio reflexo ficar mais suportável.

 

O desconvidado

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Oi, tudo bem?

Entra, senta aqui do meu lado

Como você está? Eu estava acabando de tirar os últimos resquícios de poeira, estive fora por um tempo

Vou fazer um café pra gente, só um minutinho

Aqui está. Vamos conversar?

 

Às vezes um medo enorme aparece, cheio de dedos apontados e sombras monstruosas, então uma coisa acontece: à medida que ele cresce, você diminui, enfraquece, ele fica maior, mais alto, forte, até ocupar todo o espaço disponível. Às vezes é melhor desaparecer nem que seja por um tempo, sumir principalmente dos lugares que esse desconvidado gosta de ir com mais freqüência. Funciona também tentar ficar invisível, imóvel, repensar tudo que te fez atraí-lo, mas isso é muito pessoal, varia de pessoa pra pessoa, tem aquelas que não precisam desaparecer, conseguem levar a vida como se estivesse tudo bem, e quando o desconvidado aparece, simplesmente olham para o lado, fingem não vê-lo, se ocupam com outra coisa, e vão tentando levar a vida. O problema é que ele não agüenta ser ignorado, tem uma sede enorme de ser notado, atendido, bajulado, e até que receba atenção, não se satisfaz.

Pode-se tentar adiar ao máximo o dia em que terão que recepcioná-lo, acarinhá-lo, olhá-lo bem nos olhos, servir uma bebida e chamá-lo para um conversa. Esta conversa pode acontecer de forma suave ou estrondosa, violenta, amarga, depende do tamanho, do peso, do quanto foi alimentado, ignorado, de quanto bagagem ele carrega.

O desconvidado tem uma função, ele tem um alto cargo na nossa existência, dizem que temos dois sentimentos básicos na vida: o amor e o medo, todos os outros são variações deles. O desconvidado tem uma inveja enorme do amor: Às vezes ele observa o quanto seu rival é procurado, assediado, caçado, desejado, implorado para fazer parte da vida das pessoas, o quanto é tão bem recebido, tão bem tratado. Ele olha toda essa atenção que o amor recebe, e não agüenta, quer também fazer parte, e quando ele chega e se sente bem vindo, notado, bem recepcionado, um acordo é feito, tudo fica bem. Ele sabe que pode ficar por aqui, mas vai ser sempre vigiado. Não tem problema. Medo ama atenção. Um pouquinho de medo bem acolhido é bom para fortalecer o amor, para torná-lo mais seguro, alerta, balanceado. Mas o amor, esse descuidado, às vezes deixa brechas, e o medo que está sempre alerta pensa, ah, acho que eu posso crescer um pouquinho, ele cresce, e gosta do que sente, e então vai preenchendo espaços, ganhando formas, atenção, mimos, num crescente vertiginoso, o equilíbrio é perdido e algo tem que acontecer.

Às vezes a pessoa consegue perceber tudo isso sozinha, as vezes precisa de alguém que saiba lidar com esse desconvidado, alguém que saiba amansá-lo, que o faça repensar, entender que nunca será abandonado, fazê-lo diminuir um pouco de tamanho, alguém que diga que ele tem um papel especial, vital, sempre fará parte da vida, até que ele se acalma e fica sob controle novamente.

Esses dois brigões nem sempre convivem mal, podem passar anos numa convivência harmoniosa, equilibrada, mas um está sempre de olho no outro, sondando, medindo.

O amor bate na porta com um ramalhete de flores, um presente inesperado, o medo logo fareja e lança uma pequena suspeita, o amor lança um elogio, o medo logo desconfia da sinceridade, o amor tenta sempre fazer o bem, o medo tenta ver a má intenção incutida, o amor te dá oportunidades, o medo te faz questionar o merecimento, o amor te diz que está lindo, o medo questiona sobre o que vão achar, o que vão dizer, o amor te diz pra fazer, e o medo te aconselha: melhor não..

Mas hoje o medo, esse desconvidado, ganhou bastante atenção, estou me sentindo corajosa, vou abrir mais espaço para o amor.

Entrelinhas

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Porque historicamente, culturalmente, socialmente, moralmente é mais aceito uma (pequena?) mentira do que a verdade? Temos até um nome para isso: Mentira social.

Ninguém tem um comportamento ou certezas fixas na vida, suas ideias e opiniões estão mudando o tempo todo. Todo dia estamos aprendendo com nossos acertos e erros. Se somos seres humanos, e pensamos como tal, porque esse medo de falar o que pensamos, de falar de verdade, de sermos verdadeiros? Ia evitar tanto sofrimento desnecessário.

Ninguém quer aborrecer ou ser aborrecido pelos sofrimentos alheios, mas o problema é que isso gera uma cultura e um modelo que sai das ruas e do círculo de amigos, e passa a ser o modelo em casa também. É Normal encontrar um amigo na rua e o dialogo ser assim:

Amigo: Oi, tudo bem?

Você: Tudo bem!  Não está bem, está uma porcaria, estou desmoronando por dentro

Amigo: E a família? E seus filhos?

Você: Estão bem, chegando as férias, não vejo a hora, vamos passar mais tempo juntos.  Mentira! Eles não param de brigar, vou enlouquecer, amo as férias e os filhos, mas 30 dias ? É demais!!

Por fora todo um diálogo com aparência e som de “normal”, mas por dentro uma tagarelice gritante de coisas não ditas e não dizíveis. E estamos tão acostumados a isso, que nem pensamos que poderia ser diferente.

Sei que é utópico demais pensar nisso, mas e se fosse diferente? Se os problemas, os medos, as angustias fossem verbalizadas, divididas, compartilhadas, sem medo de chatear o outro, de perturbar o espaço alheio?

E em casa, esse modelo impera também. Pelo medo de não ser compreendido, o diálogo honesto, verdadeiro, é quase inexistente. Ninguém senta com a família e os filhos para saber o que se pensa, de verdade, sem esse medo que temos de expor os pensamentos e ser visto como ridículo, diferente, medo de ser jugado,  analisado e rotulado.

Temos essa necessidade premente de parecermos bons, certinhos,  iguais aos que nos rodeiam, mas isso também nos torna alienados, você acha que só você tem angustias que na verdade muitas outras pessoas compartilham, e seria um alivio imenso se pudêssemos compartilhar isso principalmente com as pessoas que realmente importam na nossa vida.

Sempre ficamos surpresos, agradecidos, aliviados, quando dizemos algo a alguém e a pessoa concorda e compartilha da mesma opinião.

É fato que queremos ser amados, e muitas pessoas passam a vida se tolhendo, se ajustando a um modelo que não é o seu ideal, apenas para ganhar a atenção e afeto do outro. Porque agimos assim?

Como podemos mudar ? queremos mudar? Nossa zona de conforto é tão mais quentinha.

Papai você é bruxa?

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Toda criança em seu desenvolvimento, passa  por um período de egocentrismo, em que o Eu tem muita importância, a criança se acha o centro das atenções, o que ela pensa e o que quer,  tudo está voltada para sí, precisa da atenção de todos, tem dificuldade de dividir o brinquedo, e durante esse processo é difícil diferenciar o que é fantasia da realidade ( Essa fase pode ir até por volta dos 7 anos de idade, mas varia muito de criança para criança, do ambiente e cultura em que está inserida).  Lembro muito da J. por volta dos  6 anos, perguntando:

-Mãe, Fada existe?  E Pônei, pônei existe?

Para realizar esses questionamentos a criança já tem que ser capaz  de diferenciar a realidade do imaginário.  Crianças menores ainda não conseguem , por isso muitos tem medo do palhaço ou de outros adultos com máscaras ou fantasias, por mais que a mãe ou outra pessoa fale, olha, não precisa ter medo, é só alguem fantasiado, ela não é capaz ainda de pensar de outra maneira.

Esses dias meu filho de 3 anos estava tomando banho com o pai e do nada perguntou:

– Pai, você é bruxa?

Depois de se refazer do susto e da gargalhada,  veio questionamento,  – por que?

Ah, é que a professora contou a história da bruxa, e ela tinha nariz comprido ( pausa aqui para  risada)

Na imaginação do meu filho, a característica mais marcante da bruxa era o nariz comprido, e o pai a seu ver, tem o nariz comprido, logo, ele bem que poderia ser uma bruxa.

Ele provavelmente imaginou o pai e ficou pensando,  será que meu pai é uma bruxa? Melhor eu perguntar.

Por mais engraçado que tenhamos achado, é uma fase natural do desenvolvimento de seu raciocínio lógico, essa mescla de fantasia e realidade.

Não filho, o papai não é bruxa.

Esquiva

Sexta feira estava me sentindo mal

decido abrir um vinho,

não conseguia tirar a rolha, esfarelava

Tento abrir a segunda garrafa, outra marca, e a rolha se desfaz

Respiro fundo, tento outro, sou persistente

Deu certo,

Tomo o vinho.

 

Segunda feira estou me sentindo bem

Lembro da rolha esfarelenta, peço ao marido para terminar de abrir a garrafa

Já previa meu olhar de satisfação

Ora, o problema  era a rolha

Ele também não conseguiria abrir

E íamos falar: mas que rolha imprestável

Provavelmente está ressecada,

Vamos jogar o vinho fora? deve estar estragado

Ele tenta,

Ela gira perfeitamente

E suavemente sai

O vinho estava delicioso,

Não era a rolha.

Sobre falar pouco

Estou lendo um livro onde Mario Quintana diz que Luiz Fernando Verissimo não gostava muito de falar, sei pouco sobre Luiz Fernando Verissimo, fora ser um escritor brilhante com livros deliciosos de ler, outro dia Li o Analista de Bagé e dei altas gargalhadas, sozinha.  Fato é que agora eu o admiro mais, me identifiquei totalmente com ele: eu também não gosto muito de falar não, falar é bem trabalhoso, tem que pensar, você tem que criar as frases e elas tem que fazer sentido, e depois você tem que articular bem sua voz, e a minha voz é baixa, se eu tento falar mais alto minha garganta reclama e dói, Mas eu também não gosto muito de falar por um outro motivo, secreto até agora:  é porque minha mente fica em branco e eu não sei o que dizer. Alguém fala alguma coisa e eu nunca sei o que responder, tenho medo de parecer boba, e depois quando estou só penso em muitas coisas que eu poderia ter dito e não disse, e depois me arrependo das coisas que eu disse e não deveria ter dito, deve ser problema de falta de confiança ou autoestima, quase sempre fico muito brava, porque eu leio tanto, minha cabeça deveria ser povoada de coisas interessantes e respostas  rápidas e inteligentes, mas na maioria das vezes ela está em branco, e sempre nos momentos oportunos os assuntos fogem, as repostas se esvaem, e na esperança e ânsia de parecer inteligente, pareço boba, ou vazia. Se você falou comigo e eu dei essa impressão, você pode estar certo. Ou não.

Algumas formas de sofrer menos

A vida se torna mais interessante e suportável se vivida  em pequenas doseschuvanajanela1

Ela é  muito curta para ser pequena, mal vivida e inexpressiva,

Quando estiver vivendo seu dia, fique acordado, e quando o sono chegar, descanse, e aí sim, sonhe o sonho por sí só

Faça  o que estiver ao seu alcance, pequenos gestos de ajuda, e amor ao próximo

Não se desespere, você não pode concertar o mundo, mesmo que tenha vontade

E quando doar-se, não espere recompensa, ajuda, aprovação ou reconhecimento

 

Chore a sua dor, o tempo e altura que for necessário

Dê atenção, abrace seu sofrimento, sinta-o com toda intensidade, e depois o liberte

Cure suas feridas, limpe-as, não as ignore

Esteja ciente que essas desaparecerão

Mas novas estão a caminho,

Sempre estão

 

Plante uma árvore, uma flor, algo que vá nascer

Você só precisa de uma semente

Um tantinho de agua

Duas mãos, melhor se forem as suas

Um pedaço de terra que nem precisa te pertencer

Depois só esperar e ver florescer

 

Leia bons livros, os que parecerem bons para você,

Você não precisa escrever um, ou escreva se isso te fizer mais feliz

Na verdade muitos já o fizeram

Todas as angustias já foram sofridas, e acredite não foram poucas

(A ideia, a concordância, a editora, capa, divulgação, será que vai vender?)

Agora só te resta o bônus, desfrute-o

 

Um filho te dará muita alegria

Mas esteja preparado para toda dor que nasce junto

Esta é um pacotinho escondido, você não vê, mas ela vem junto

Você é apenas o intermediário altruísta

Você dará e receberá

Nem sempre na medida justa

 

Não se intimide de ser diferente, de expressar seus sentimentos e pensamentos

Não lamente o que já foi dito, nem espere que concordem com você

Ao se depararem com ideais posicionados

Quem pensa igual as vezes não se manifesta

Quem pensa diferente corajosamente te reprovará

Dê a ambos, igual importância.

 

Seja feliz,

Não se pressione tanto

Não permita que a busca da felicidade te traga infelicidade

Tente fazer o fim valer tanto quanto o início e o meio,

Seja feliz,

Mesmo quando ninguém estiver olhando.